O Velho e o Cão
Velho,
cansado e envolto na solidão que os anos me trouxeram, pensei que um cão
poderia preencher o vazio que se formara em minha existência. Não era apenas a
ausência de companhia, mas a falta de propósito, de algo que me fizesse
levantar da cama mesmo nos dias mais cinzentos.
E
então, como um presente do destino, eu o encontrei: perdido, sujo, com os olhos
grandes e famintos que pareciam carregar um pedido mudo por ajuda. Não hesitei.
Acariciei sua cabeça emaranhada, e ele, sem um pingo de medo, abanou o rabo e
seguiu-me com uma confiança que me comoveu.
Naquele
momento, soube que ele seria meu, e eu, de alguma forma, seria dele também. Chamei-o
de Fido, um nome simples que me lembrava os cães fiéis das histórias que meu
avô contava.
Agora,
ele é minha sombra, meu companheiro nos dias longos e nas noites silenciosas.
Falo com ele como se pudesse entender cada palavra, e ele responde à sua
maneira: uma lambida nas mãos calejadas, um olhar que parece dizer que tudo vai
ficar bem.
“Fido,”
digo eu, com a voz rouca, “amanhã não terei comida. O dinheiro acabou, e vamos
ter que esperar mais um pouco.” Ele não reclama, apenas deita a cabeça no meu
colo, como se quisesse me consolar.
Quando
o dia abençoado do pagamento chega, junto-me aos outros pensionistas na fila. A
carteira, úmida do frio e do tempo, aperta-se entre meus dedos trêmulos
enquanto espero minha vez.
Fido
espera do lado de fora, pacientemente, como se soubesse que hoje haverá um
pouco mais na mesa - um osso suculento para ele, talvez um pedaço de pão fresco
para mim.
É
inverno, e o frio corta como faca. Minha casa, pequena e sem lareira, não
oferece muito conforto. Mas Fido se aninha ao meu lado, seu corpo quente contra
o meu, e, de alguma forma, isso é suficiente para aquecer não só meu corpo, mas
também minha alma.
A
primavera chega tímida, trazendo consigo o calor suave do sol. Saímos juntos
para agradecer à luz que banha os campos. Ele corre à minha frente, brincando
com as folhas que o vento carrega, e eu sorrio como há muito não fazia.
Enquanto
caminho, com o coração leve, ergo uma oração silenciosa: “Obrigado, Senhor, por
criar o cão. Obrigado por me dar Fido, que me ensinou que a vida, mesmo nas
suas formas mais simples, ainda pode ser bela.”
E assim
seguimos, o velho e o cão, dividindo o pouco que temos e encontrando alegria no
que realmente importa: a lealdade, a companhia e o amor que não pede nada em
troca.
Fido me salvou da solidão, e eu, talvez, o tenha salvado da sua e da rua. Juntos, somos mais do que éramos sozinhos - somos uma família, pequena, mas completa.
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